Os Doces Nomes de Maria Santíssima
“No Vosso parto, guardastes a virgindade; Na Vossa dormição, não deixastes o mundo, ó Mãe de Deus: fostes juntar-Vos à fonte da vida, Vós que concebestes o Deus vivo e, pelas Vossas orações, livrareis as nossas almas da morte.”
* * *
"Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura ininterruptamente, a partir do consentimento que Ela fielmente prestou na Anunciação, que sob a cruz resolutamente manteve, até a perpétua consumação de todos os eleitos. Assumpta aos Céus, não abandonou este múnus salvífico, mas, pela Sua múltipla intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. (...) Por isso, a Bem-Aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Protectora e medianeira."
Cheia de Graça
O Espírito Santo preparou Maria com a Sua graça. Convinha que fosse "Cheia de graça" a Mãe d'Aquele em quem "habita corporalmente a Plenitude da Divindade" (Cl 2,9). Por pura graça, Ela foi concebida sem pecado como a mais humilde das criaturas; a mais capaz de acolher o Dom inefável do Todo-Poderoso. É com razão que o Anjo Gabriel A saúda como a "filha de Sião": "Alegra-te!". É a ação de graças de todo o Povo de Deus, e portanto da Igreja, que Ela faz subir ao Pai no Espírito Santo no Seu cântico, enquanto traz em si o Filho Eterno.
Esse duplo movimento da oração a Maria encontrou uma expressão privilegiada na oração da Ave-Maria:
"Ave, Maria (alegra-te, Maria)." A saudação do Anjo Gabriel abre a oração da Ave-Maria. E o próprio Deus que, por intermédio do Seu anjo, saúda Maria. Nossa oração ousa retomar a saudação de Maria com o olhar que Deus lançou sobre sua humilde serva7, alegrando-nos com a mesma alegria que Deus encontra nela.8
"Cheia de graça, o Senhor é convosco." As duas palavras de saudação do anjo se esclarecem mutuamente. Maria é cheia de graça porque o Senhor está com ela. A graça com que ela é cumulada é a presença daquele que é a fonte de toda graça. "Alegra-te, filha de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti" (Sf 3,14.17a). Maria, em quem vem habitar o próprio Senhor, é em pessoa a filha de Sião, a Arca da Aliança, o lugar onde reside a glória do Senhor: Ela é "a morada de Deus entre os homens" (Ap 21,3). "Cheia de graça", e toda dedicada Àquele que n'Ela vem habitar e que Ela vai dar ao mundo.
"Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus." Depois da saudação do Anjo, tornamos nossa a palavra de Isabel. "Repleta do Espírito Santo" (Lc 1,41), Isabel é a primeira na longa série das gerações que declaram Maria bem-aventurada': "Feliz aquela que acreditou..." (Lc 1,45): Maria é "bendita entre as mulheres" porque acreditou na realização da palavra do Senhor. Abraão, pela sua fé, tornou-se uma bênção para "todas as nações da terra" (Gn 12,3). Pela Sua fé, Maria tornou-se a Mãe dos que crêem, porque, graças a Ela, todas as nações da terra recebem Aquele que é a própria bênção de Deus: "Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus".
Escrava do Senhor
Maria10 "permaneceu Virgem concebendo o Seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz, Virgem ao carregá-Lo, Virgem ao alimentá-Lo do Seu seio, Virgem sempre" : com todo o seu ser Ela é "a Serva do Senhor" (Lc 1,38).
Imaculada
Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, "cumulada de graça" por Deus,12 foi redimida desde a concepção. E isso que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo papa Pio IX:
"A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus omnipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano foi preservada imune de toda mancha do pecado original.13"
Esta "santidade resplandecente, absolutamente única" da qual Maria é "enriquecida desde o primeiro instante14 de sua conceição, lhe vem inteiramente de Cristo: "Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime”.15 Mais do que qualquer outra pessoa criada, o Pai A "abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo" (Ef 1,3). Ele A "escolheu nele (Cristo), desde antes da fundação do mundo, para ser santa e imaculada na Sua presença, no amor" (Ef 1,4).
Mãe da Igreja
Depois de termos falado do papel da Virgem Maria no mistério de Cristo e do Espírito, convém agora considerar lugar d'Ela no mistério da Igreja. "Com efeito, a Virgem Maria (...) é reconhecida e honrada como a verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. (...). Ela é também verdadeiramente 'Mãe dos membros [de Cristo] (...), porque cooperou pela caridade para que na Igreja nascessem os fiéis que são os membros17 desta Cabeça'." (...) Maria, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja .18
O papel de Maria para com a Igreja é inseparável da Sua união com Cristo, decorrendo directamente dela (dessa união), "Esta união de Maria com o Seu Filho na obra da salvação manifesta-se desde a hora da concepção virginal de Cristo até à Sua morte."19 Ela é particularmente manifestada na hora da paixão de Jesus:
"A bem-aventurada Virgem avançou na Sua peregrinação de fé, manteve fielmente a Sua união com o Filho até a cruz, onde esteve de pé não sem desígnio divino, sofreu intensamente junto com o Seu unigénito. E com ânimo materno se associou ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima Ela por gerada. Finalmente, pelo próprio Jesus moribundo na cruz, foi dada como mãe ao discípulo com estas palavras: "Mulher, eis aí teu filho" (Jo 19,26-27)".20
Após a ascensão do Seu Filho, Maria "assistiu com as suas orações a Igreja nascente”.21 Reunida com os apóstolos e algumas mulheres, "vemos Maria a pedir, também Ela, com as Suas orações, o dom do Espírito, o qual, na Anunciação, A tinha coberto com a Sua sombra".22
Nossa Mãe na Ordem da Graça
Pela Sua adesão total à vontade do Pai, à obra redentora do Seu Filho, a cada moção do Espírito Santo, a Virgem Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade. Com isso, ela é "membro supereminente e absolutamente único da Igreja",27 sendo até a "realização exemplar (typus)" da Igreja.28
Mas seu papel em relação à Igreja e a toda a humanidade vai ainda mais longe. "De modo inteiramente singular, pela obediência, fé, esperança e ardente caridade, Ela cooperou na obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas. Por este motivo ela se tornou para nós mãe na ordem da graça."29
"A missão materna de Maria em favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui a mediação única de Cristo; pelo contrário, até ostenta a Sua potência, pois todo o salutar influxo da bem-aventurada Virgem (...) deriva dos superabundantes méritos de Cristo, estriba-se em sua mediação, dela depende inteiramente e dela aufere31 toda a sua força." Com efeito, nenhuma criatura jamais pode ser equiparada ao Verbo Encarnado e Redentor.
(...)
Mãe de Cristo
A tradição cristã vê nesta passagem um anúncio 34do "novo Adão", que, por sua "obediência até a morte de Cruz" (Fl 2,8), repara com superabundância a desobediência de Adão35. De resto, numerosos Padres e Doutores da Igreja vêem na mulher anunciada no "proto-evangelho" a mãe de Cristo, Maria, como "nova Eva". Foi Ela que, primeiro e de uma forma única, beneficiou da vitória sobre o pecado conquistada por Cristo: Ela foi preservada de toda mancha do pecado original36 e durante toda a vida terrestre, por uma graça especial de Deus, não cometeu nenhuma espécie de pecado.37
Mãe de Deus
A heresia nestoriana via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus. Diante dela, São Cirilo de Alexandria e o III Concílio Ecumênico, reunido em Éfeso em 431, confessaram que "o Verbo, unindo a si na sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, se tornou homem".39 A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde sua concepção. Por isso o Concílio de Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tornou de verdade Mãe de Deus pela concepção humana do Filho de Deus no Seu seio: "Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que Ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na Sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne".40
Denominada nos Evangelhos "a Mãe de Jesus" (João 2,1;19,25),41 Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como "a Mãe de meu Senhor" (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos).42
Maria é verdadeiramente "Mãe de Deus", visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem, que é Ele mesmo Deus.
Mãe dos vivos
Ao anúncio de que, sem conhecer homem algum, ela conceberia o Filho do Altíssimo pela virtude44 do Espírito Santo, Maria respondeu45 com a "obediência da fé", certa de que "nada é impossível a Deus": "Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,37-38). Assim, dando à Palavra de Deus o seu consentimento, Maria se tomou Mãe de Jesus e, abraçando de todo o coração, sem que nenhum pecado A retivesse, a vontade divina de salvação, entregou-se Ela mesma totalmente à pessoa e à obra de seu Filho, para servir, na dependência dele e com Ele, pela graça de Deus, ao Mistério da Redenção:46
Como diz Santo Irineu47, "obedecendo, fez-se causa de salvação tanto para si como para todo o género humano". Do mesmo modo, não poucos antigos Padres dizem com ele: "O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade a Virgem Maria desligou48 pela fé”. Comparando Maria com Eva, chamam Maria de "mãe dos viventes" e com freqüência afirmam: "Veio a morte por Eva e a vida por Maria”.49
A Virgem Maria cooperou "para a salvação humana com livre fé e obediência"50 Pronunciou seu 'fiat" (faça-se) "em representação de toda a natureza humana".51 Por sua obediência, tornou-se a nova Eva, Mãe dos viventes.
Sede de Sabedoria
Maria, a Mãe de Deus toda santa, sempre Virgem, é a obra prima da missão do Filho e do Espírito na plenitude do tempo pela primeira vez no plano da salvação e porque o seu Espírito a preparou, o Pai encontra a Morada em, que seu Filho e o Seu Espírito podem habitar entre os homens. E neste sentido que a Tradição da Igreja muitas vezes leu, com relação a Maria, os mais belos textos sobre a Sabedoria: Maria é decantada e representada na Liturgia como o "trono da Sabedoria".
N'Ela começam a manifestar-se as "maravilhas de Deus" que o Espírito vai realizar em Cristo e na Igreja.
Sempre Virgem
O aprofundamento de sua fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria,57 mesmo no parto do Filho de Deus feito homem.58 Com efeito, o nascimento de Cristo "não lhe diminuiu, mas consagrou a integridade virginal" da Sua mãe.59 A Liturgia da Igreja celebra Maria como a "Aeiparthenos" (="sempre virgem").60
A isto objecta-se por vezes que a Escritura menciona Irmãos e irmãs de Jesus.61 A Igreja sempre entendeu que essas passagens não designam outros filhos da Virgem Maria: com efeito, Tiago e José, "irmãos de Jesus" (Mt 13,55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo62 que significativamente é designada como "a outra Maria" (Mt 28,1). Trata-se de parentes próximos de Jesus, consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento.63
Jesus é o Filho Único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria64estende-se a todos os homens que Ele veio salvar: Ela gerou o Seu Filho, do qual Deus fez “o primogénito entre uma multidão de irmãos” (Rm 8,29), isto é, entre os fiéis, em cujo nascimento e educação Ela coopera com amor materno.
Fonte: Apologeta Mariano (adaptado)
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