quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os católicos adoram os santos?

"Pela tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Lot, que estava assentado à porta da cidade, ao vê-los, levantou-se e foi-lhes ao encontro e prostrou-se com o rosto por terra" (Gn 19,1).

Todo católico já deve ter sido interpelado por um protestante a respeito do uso das imagens na Igreja Católica. Suas perguntas nesta matéria sempre vêm com a acusação de que nós católicos somos idólatras porque fazemos uso das imagens. O mais interessante e também triste é que normalmente essas pessoas se dizem ex-católicas. E não me surpreendo em sempre verificar que foram “católicos” muito mal formados ou totalmente ignorantes da doutrina que dizem ter professado.

Será que esses ex-“católicos” já leram no Catecismo da Igreja Católica o ensino da Igreja sobre o uso das imagens? Lá encontramos:

2131. Com base no mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio ecuménico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens.

2132. O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. Com efeito, «a honra prestada a uma imagem remonta (63) ao modelo original» e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada» (64). A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve:

«O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem» (65).” (Catecismo da Igreja Católica, 2131-2132.)

Na Sagrada Escritura há outras passagens que condenam a confecção de imagens como, por exemplo: Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7 e etc. Mas também há outras passagens que defendem sua confecção como: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs 6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4 e etc.

Pode Deus infinitamente perfeito entrar em contradição consigo mesmo? É claro que não. E como podemos explicar esta aparente contradição na Bíblia? Isto é muito simples de ser explicado. Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens. Quando o objetivo da imagem é representar um ídolo que vai roubar a adoração devida somente a Deus, ela é abominável. Porém quando é utilizada ao serviço de Deus, no auxílio à adoração a Deus, ela é uma benção.

"Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubin na extremidade de uma parte, e outro querubin na extremidade de outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele." (Ex 25,18-19)

"E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo." (Nm 21,8-9)

"Este [Ezequias] tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã."(2Rs 18,4).

Embora a Bíblia mostre claramente em quais casos a confecção das imagens é permitida, os “leitores da bíblia” proíbem o uso das imagens em qualquer caso, desta forma extrapolando indevidamente o mandamento de Deus.

Ajoelhar-se e prostar-se é sempre adoração ou idolatria?

Dizem ainda que nós católicos somos idólatras porque nos ajoelhamos diante das imagens dos santos e lhe fazemos pedidos. Esta acusação demonstra uma tremenda ignorância por parte dos protestantes entre o culto de adoração (latria) e o culto de veneração (dulia). A própria Escritura que eles dizem conhecer e seguir dá testemunho da distinção entre as duas coisas.

Ajoelhar-se também é um sinal de reverência e veneração. Os súbitos devem prestar veneração pelos Reis, ou por uma autoridade suprema. O filho pelos pais, os alunos pelos professores e os discípulos pelo mestre. Tudo isso está em conformidade com a ordem estabelecida por Deus. Vejamos alguns exemplos na Sagrada Escritura:

"Pela terceira vez, mandou o rei [Ocozias da Samaria] um chefe com os seus cinqüenta homens, o qual, chegando aonde estava Elias, pôs-se de joelhos e suplicou-lhe, dizendo: Peço-te, ó homem de Deus, que a minha vida tenha algum valor aos teus olhos e a destes cinqüenta homens teus servos " (2Rs 1,13).

Na passagem acima um mensageiro do Rei Ocozias da Samaria põe-se de joelhos diante do Profeta Elias. Por que faz isso? Para suplicar-lhe que permita viver com seus cinqüenta companheiros de viagem, pois antes Elias mandou vir fogo do céu sobre duas equipes anteriores. O ato de súplica não é um ato de adoração, mas de humildade, de rebaixamento, onde se reconhece no outro sua superioridade ou seu poder de atender-lhe um pedido.

Nós católicos quando nos ajoelhamos diante das imagens dos santos e lhe fazemos pedidos, não estamos adorando ídolos, mas dirigindo nossa súplica aos nossos irmãos na fé que representados por suas imagens já se encontram na presença de Deus. O ajoelhar-se do católico aí é um ato de súplica e não de adoração. Com efeito, ensina o Catecismo da Igreja Católica”

956. A intercessão do santos. “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (Lumen Gentium 49)

Será que os ex-“católicos” alguma vez leram este parágrafo do Catecismo? Sinceramente, eu duvido... Vejamos outro interessante testemunho da Escritura Sagrada:

"Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra" (Gn 18,2).

O texto sagrado testemunha que Abraão prostra-se ao ver os três anjos do Senhor. Devemos acusar o Patriarca de idolatria? Obviamente que Abraão não estava adorando os anjos, pois se fosse este o caso eles o teriam repreendido, como fez o anjo que revelava o apocalipse a S. João (cf. Ap 22,8-9). Entretanto, Abraão estava prestando-lhes culto de reverência, reconhecendo a condição superior dos anjos de Deus.

"Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus" (Mt 5,19).

Ora, por acaso não são os santos exatamente aquelas pessoas que venceram na fé e que agora podem ser consideradas grandes no Reino dos Céus como ensinou Nosso Senhor? Cabe ainda lembrar que para o Senhor o menor no Reino do Céu é maior do que qualquer um que esteja vivendo na terra (cf. Mt 11,11).

Embora os atos de veneração e súplica sejam externamente iguais à reverência que se deve somente a Deus, internamente são coisas bem distintas e a própria Escritura Sagrada distingue bem as duas coisas. Mais alguns exemplos interessantes:

"Moisés saiu ao encontro de seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutuamente sobre a sua saúde e entraram na tenda" (Ex 18,7).

"Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele" (1Sm 25,23).

Porém, alguém poderia levantar a seguinte objeção: “mas, os exemplos dados são de pessoas vivas venerando pessoas vivas e não mortas”. Primeiramente, isso não é totalmente verdade já que os anjos do Senhor não podem ser considerados “pessoas vivas”, mas seres espirituais. Em segundo lugar, os santos que estão no céu também são seres espirituais. Em terceiro, a Escritura dá testemunho da veneração do rei Saul ao profeta Samuel já falecido:

"Qual é o seu aspecto? É um ancião, envolto num manto. Saul compreendeu que era Samuel, e prostrou-se com o rosto por terra" (1Sm 28,14).

Mais sobre atos de veneração podem ser encontrados em Gn 23,12; Gn 33,3; Ex 18,7; 1Sm 25,41; 2Sm 9,6; 14,4.

Adorar é reconhecer a divindade e oferecer sacrifício

Deus condena a confecção de ídolos, pois o ídolo leva as pessoas a prestarem a ele o culto que só se deve a Deus: o culto de adoração. Adorar um ato de reconhecimento da divindade e oferecimento de sacrifício.

Os pagãos realmente adoravam seus ídolos, pois lhes reconheciam a divindade e lhes ofereciam sacrifício:

"Habitando os israelitas em Setim, entregaram-se à libertinagem com as filhas de Moab. Estas convidaram o povo aos sacrifícios de seus deuses, e o povo comeu e prostrou-se diante dos seus deuses" (Nm 25,1-2).

"Em vão Acaz tinha despojado o templo do Senhor, o palácio real e os príncipes para fazer presentes ao rei da Assíria. Tudo isso de nada lhe valeu. Embora estivesse angustiado, o rei Acaz continuou seus crimes contra o Senhor. Oferecia sacrifícios aos deuses de Damasco, que o tinham derrotado: São, dizia ele, os deuses dos reis da Síria que lhes vêm em auxílio; oferecer-lhes-ei, portanto, sacrifícios para que me ajudem igualmente. Mas foram a causa de sua queda e de todo o Israel" (2Cr 28,21-23).

No segundo livro dos Reis encontramos o conceito completo de idolatria por meio de sua condenação:

"O Senhor tinha feito com eles uma aliança e lhes tinha dado a seguinte ordem: Não adorareis outros deuses, nem vos prostrareis diante deles; não lhes prestareis culto, e não lhes oferecereis sacrifícios" (2Rs 17,35).

Os pagãos prostravam-se diante de seus ídolos não para reconhecerem neles instrumentos e servos de Deus de condição superior a nossa e que são capazes de interceder por nós junto a Deus, mas crendo que eram deuses verdadeiros e portanto capazes de eles mesmos realizarem milagres.

Em 2Rs 17,35 Deus apresenta a doutrina em sentido negativo. No versículo seguinte encontramos o conceito da verdadeira adoração:

"Mas temei ao Senhor que vos tirou do Egito com o poder de seu braço. A ele temereis, diante dele vos prostrareis e a ele oferecereis os vossos sacrifícios" (2Rs 17,36).

Somente a Deus devemos nos prostrar reconhecendo-lhe a divindade e oferecendo-lhe o sacrifício devido.

Os verdadeiros idólatras de nosso tempo são aqueles que oferecem sacrifício de animais (geralmente galinhas e carneiros) aos seus falsos deuses. Os protestantes não adoram a Deus, apenas o louvam. Seu culto é apenas um culto de louvor e não de adoração. Só no catolicismo se adora a Deus, pois na Santa Missa é oferecido a Deus o cordeiro imaculado que é Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme sua própria prescrição (cf. Mt 14,22-25; Lc 22,17-20; 1Cor 11,23-29).

Em Êxodo 20, 4a temos estas palavras de Deus:

Não farás para ti escultura

Em Êxodo 25, 18a temos, também de Deus, estas palavras:

Farás dois querubins de ouro.

É comum observar a teologia protestante não atribuir importância a esse fato tão óbvio. O protestantismo alega que esses querubins não foram feitos para o mesmo fim que as imagens católicas são. Afirmam que "os Querubins, de asas estendidas, ocultavam a Deus, o véu o cobria e o próprio lugar, tão escondido, de si mesmo o ocultava (Ex 25.17,18,21). Portanto, salta aos olhos que os que tentam defender uma imagem de Deus ou de santos, citando o exemplo desses Querubins, estão enlouquecidos. Suplico, pois: Que significavam essas imagenzinhas senão que não existem formas apropriadas pelas quais se possam representar os mistérios de Deus? Elas foram feitas para, velando com as asas o propiciatório, impedir não só que os olhos humanos vissem a Deus, mas também com quaisquer de todos os outros sentidos e, dessa forma, pusessem um paradeiro à temeridade dos homens". Essas "imagenzinhas" são, ironicamente, ordens de Deus. O que se discute aqui é a questão de proibir ou não uma imagem, e não de como usá-la. Deus, através da imagem da serpente de bronze, é quem vai nos mostrar como usar uma imagem.

Voltando ao texto, vemos que alude a uma "tentativa" da Igreja Católica de defender uma imagem de Deus ou de santos, mas vamos observar o seguinte:

Deus disse:

Não farás para ti escultura

E depois disse:

Farás dois querubins de ouro

Pode Deus ordenar uma coisa e depois "desordená-la" logo após? Claro que sim, afinal, Ele é Deus e pode tudo. Ele poderia permitir algo que Ele mesmo proibiu? Claro, Ele criou a lei, Ele É acima da lei. Esse detalhe mostra que Deus proibiu a confecção de imagens, mas não o fez de forma absoluta. Para tudo Deus tem motivos, planos. A proibição de imagens teve um motivo, que quem estuda a bíblia mais profundamente, juntamente com a história das civilizações daquela época, consegue discernir. Da mesma forma, a permissão de Deus para que fossem feitas imagens também teve um motivo. Não há aqui contradição, mas uma sabedoria que transcende a nossa razão. Deus permitiu que fossem feitas certas imagens porque elas não teriam a função que as demais imagens porventura feitas pelo seu povo teriam: serem adoradas no Seu lugar. Aliás, não seriam elas, as imagens, o alvo da proibição de Deus, mas a crença em deuses fora dEle, o afastamento da aliança de Seu povo para com Ele. Este era o fim pelo qual o objeto que causava tais coisas, naquele tempo as imagens de deuses estranhos, foram proscritas, pois era assim que os povos representavam seu cotidiano, sua história, seus deuses, etc.

A ordem de Deus na feitura dos querubins era para proteger a tampa da Arca da Aliança, e era onde Deus se manifestaria, do meio dos querubins (Ex 25, 22). Esses pequenos querubins não seriam adorados, mas com certeza, seriam respeitados como objetos sagrados, assim como toda a Arca, pois era que estava a lei de Deus. É isso que a Igreja Católica entende e ensina sob o nome de Veneração.

Lemos em Números 21, 8-9:

E o Senhor disse a Moisés: faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste... Moisés fez, pois, uma serpente de bronze

Se a ordem de Deus em Ex 20, 4 fosse absoluta, sem exceções, Moisés seria, "como os católicos", idólatra? Mas não é esse o caso. Essa imagem também não era feita para adoração, mas era tida pelos hebreus com o maior respeito (veneração), por ser algo sagrado, mandado por Deus, pois quem olhasse para ela seria salvo, no sentido de obter a saúde, mas também uma figura da salvação oferecida por Nosso Senhor na cruz. E não era a imagem que salvava, mesmo o povo olhando em direção a ela, era Deus quem fazia a obra. Qualquer semelhança com hoje não é mera coincidência. A teologia protestante também vê aqui um "engano" católico. Essa serpente de bronze foi destruída pelo rei Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá, pois o povo estava prestando adoração a ela. Vejamos:

Destruiu os lugares altos, quebrou as estelas e cortou os ídolos de pau, Asserás. Despedaçou a serpente de bronze que Moisés tinha feito, porque os israelitas tinham até estão queimado incenso diante dela (Chamavam-na Nehustã) (2 Rs 18, 4)

O protestantismo aqui alega mais uma passagem contra as imagens, dizendo que o próprio Deus ordenou a sua destruição. E têm toda razão os evangélicos. Deus realmente ordenou a destruição dessa imagem, mas, como sempre, por algum motivo, qual seria? Os israelitas estão queimando incenso diante dela. Em outras palavras, estavam adorando-a, tanto que deram até nome a ela. Aqui não há semelhança com a queima de incenso usada pelos católicos pelo seu significado. Deus deu tal ordem porque Seu povo começou a confundir algo que deveria ser venerado, e passaram a substituir as honras e adoração devida a Deus pela imagem da serpente.

Existe uma frase do direito romano que diz Abusus non tollit usus, o abuso não proíbe o uso. Sendo verdade que existem católicos que adoram imagens, o que não é nada impossível, mesmo assim não seria motivo para destruir nem para deixar de usá-las. Aqui não há proibição para a feitura de imagem, mas fica clara a proibição quanto a adoração de imagem como um verdadeiro deus ou deusa, em esquecimento do Deus único e verdadeiro. Daí a proibição de Êxodo 20, 4. Quando, diante de uma imagem, diz-se "tu és meu Deus", isto é idolatria. Mas é exatamente isto que os católicos não fazem. Veja o exemplo do bezerro de ouro. Os israelitas, com todas as palavras, disseram "Eis o teu deus Israel". Aos santos e santas da Igreja não é dado outro nome que não o seu próprio, e não outra qualidade que não a que Deus os concedeu, a santidade, não a divindade. Não dizemos "ó São Francisco, nosso deus"... Sobre nós, católicos, dizem: "Eles dizem: ?Não chamamos às imagens de nossos deuses.? Nem os judeus nem os gentios chamavam deuses outrora". A observação do episódio do bezerro em si atesta o erro da assertiva.


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