“O aborto gera cobaias humanas”
O presidente do Movimento Pró-Vida critica as esquerdas e diz que a relativização da vida abre caminho para o nazismo
A religião não é necessariamente inimiga da ciência. Assim como a ciência não é necessariamente amiga da razão. Durkheim dizia que não há pior dogma do que o dogma da ciência. É o que se vê hoje no Brasil, um país em que marxistas fanáticos e iletrados são respeitados como cientistas e intelectuais. Uma UnB que exige atestado de cor de seus vestibulandos merece ser chamada de universidade? Professores que confundem ilusão de ótica com exame vestibular podem ser considerados cientistas?
Obviamente, não. Na melhor das hipóteses são imbecis; na pior, charlatães. Todavia, a se crer na intelectualidade brasileira, esses adjetivos só servem para religiosos como o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, 43 anos, presidente do Movimento Pró-Vida de Anápolis. Pelo fato de lutar contra o aborto, ainda por cima trajando a indefectível sotaina negra, o padre Luiz Carlos Lodi se tornou uma espécie de caricatura do obscurantismo. Se a dupla Betto & Boff representa a Igreja “progressista”, padre Lodi encarna a Igreja “reacionária”. Conseqüentemente, para a intelectualidade brasileira, Betto & Boff têm sempre razão, mesmo que Betto chame Che de Jesus e Boff fale em 1 milhão de mulheres mortas devido a aborto no país, sem perceber que, se morresse mesmo este tanto de mulheres, o Brasil já teria sido riscado do mapa. É contra essas falácias progressistas, que transformam até o aborto em prevenção de saúde, que o padre Lodi assumiu o comando do Movimento Pró-Vida de Anápolis (www.providaanapolis.org.br), fundado pelo bispo emérito Dom Manuel Pestana. Padre Lodi acaba de lançar o livro Aborto na Rede Hospitalar Pública: O Estado Financiando o Crime (edição do autor) em que questiona o conceito de “aborto legal”. Prefaciado pela juíza e professora Liliana Bittencourt (orientadora do trabalho), o livro é uma monografia de final de curso, apresentada na Faculdade de Direito da UFG, no final do ano passado, onde padre Lodi concluiu seu terceiro curso superior. O segundo foi teologia, no Institutum Sapientiae de Anápolis e o primeiro foi engenharia eletrônica, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1985. “Sou apaixonado por matemática, e engenharia eletrônica tem muita matemática”, explica o padre, que, agora, é também advogado, inscrito na OAB de Goiás. Mas não pretende advogar: “Só quando for preciso defender a vida”.
Sua abnegação pela causa antiaborto deve levá-lo à Itália, onde tenciona fazer mestrado em bioética. Está estudando latim e lendo a gigantesca Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino, seu filósofo predileto — e também do cientista norte-americano Robert Gallo, um dos descobridores do vírus da Aids, que recentemente citou o santo, no Roda Viva da TV Cultura, para mostrar aos seus entrevistadores botocudos que ciência não é incompatível com religião. É o que o intelectual Luiz Carlos Lodi — padre, advogado e engenheiro eletrônico — prova nesta entrevista.
Fale um pouco da sua vida.
Nasci em Brasília, mas minha família é do Rio de Janeiro, para onde voltei aos dois anos de idade. Fiz o curso de engenharia eletrônica na Universidade Federal do Rio de Janeiro, concluído em 1985, e entrei para o Seminário São José, da Arquidiocese do Rio. No terceiro ano, pedi transferência para a Diocese de Anápolis, onde estava se instalando o Institutum Sapientiae, com padres vindo da Europa, especialistas na formação do clero. Fui ordenado sacerdote, por Dom Manoel Pestana Filho, em 31 de maio de 1992, amanhã [quinta-feira] se completam 15 anos. Passei três anos em Goianápolis, depois voltei para Anápolis. Atuei na Paróquia de Vila Formosa e, depois, na Catedral do Bom Jesus até ser transferido para Paróquia São Cristóvão, no Jardim Iracema.
Quando o senhor pensou em se tornar padre?
Muito cedo, no ginásio ainda. No segundo grau, já tinha certeza. A dificuldade era conseguir um seminário que tivesse uma espiritualidade muito boa. Naquela época, quando terminei o segundo grau, em 1980, os seminários estavam passando por uma crise muita grande. Só em 1983, me atrevi a entrar. Mas não foi por falta de vocação. Fiz todo o curso de engenharia eletrônica sabendo que queria ser padre. Tenho um fascínio muito grande por tudo aquilo que tem matemática, e a eletrônica usa muito a matemática. Mas nunca cheguei a exercer a profissão de engenheiro eletrônico.
O governo Lula, atendendo a um compromisso histórico de suas bases, está determinado a descriminalizar o aborto no país, como ocorreu recentemente em Portugal. Surpreendentemente, o movimento pró-aborto nunca esteve tão forte no país. Como o senhor avalia isso?
É uma concorrência desleal, uma luta de Davi contra Golias. O abortista — usei a palavra proibida [risos] — é alguém que pelo simples fato de defender o aborto publicamente, militantemente, tem recursos financeiros muito abundantes, oriundos de fundações internacionais como a Federação Internacional de Planejamento, a IPPF [International Planned Parenthood Federation], presente em 180 países, inclusive no Brasil, através da Bemfam [Bem-Estar Familiar]. As entidades pró-aborto também recebem recursos das fundações Ford, McArthur e de organismos da ONU, como o Unicef. E, agora, temos um governo que tem um compromisso histórico com a legalização do aborto no país. Foi o PT quem instalou o aborto na rede hospitalar pública municipal em São Paulo, em 1989. E todos os outros municípios onde se instalou o aborto foi em decorrência de ações de vereadores e prefeitos do PT ou de partidos análogos, como o PC do B.
No governo Fernando Henrique, o então ministro da Saúde, José Serra, implantou o chamado aborto legal na rede hospitalar do país, inicialmente restrito a alguns municípios, como São Paulo. O que o governo Lula fez de diferente disso até agora?
Já no primeiro mandato, o presidente Lula, por intermédio da secretaria Nilcea Freire, apresentou um projeto para liberar o aborto durante os nove meses de gravidez, embora ele parecesse fazer certas restrições ao projeto. O Código Penal, na parte referente ao aborto, seria totalmente revogado, com exceção do artigo 127, que é o aborto provocado contra a vontade da gestante. Na versão inicial daquele projeto, até os planos de saúde seriam obrigados a custear os procedimentos abortivos, embora pudessem fazer restrições ao parto, dando prioridade à morte sobre a vida. Mas, diante da forte reação da Igreja Católica e de outros setores, o governo recuou. Agora, nesse segundo mandato, ele está sendo mais explícito, como se vê pelas declarações do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que tem sido muito mais ousado na defesa do legalização do aborto do que os seus antecessores, Humberto Costa e Saraiva Felipe.
Os defensores da legalização do aborto sustentam que os abortos clandestinos são um caso de saúde pública. E falam em milhões de abortos provocados, para mostrar que a Igreja é insensível ao sofrimento das mulheres.
Uma das coisas que os abortistas usam de maneira freqüente é a mentira. Essas estatísticas de aborto não são apenas falsas — são desvairadas. Dizer que no Brasil morrem centenas de milhares de mulheres por causa de abortos malfeitos é simplesmente um absurdo. Se pelo menos o ministro José Gomes Temporão se desse ao trabalho de acessar o Datasus na Internet, que é o banco de dados do próprio ministério que ele comanda, veria que esses dados são delirantes e que o número de mulheres mortas em decorrência de aborto, de 1996 para cá, nunca chegou a 200 por ano. Mesmo assim, essas mortes não são todas decorrentes de aborto provocado, elas também incluem gravidez ectópica, mola hidatiforme, aborto espontâneo e aborto não identificado, entre outras causas. Ora, como se pode falar em 300 mil mortes por ano, como alegam muitos abortistas? Uma coisa que sempre me chamou a atenção é que os abortistas dizem que no Brasil ocorrem 1,5 milhão de abortos por ano. Quando eu lia isso, pensava: “Esse jornal deve ser contra o aborto e teve estar horrorizado com essa cifra”. Porque quando se fala que tem seqüestro demais, que os estupros estão aumentando, que os homicídios viraram rotina, o normal é se fazer uma campanha para recrudescer a perseguição penal. Mas, no caso do aborto, a campanha é outra: vamos liberar o aborto. Já que todo mundo faz, vamos acabar com o que eles chamam de hipocrisia e que todo mundo faça de maneira segura, higiênica, legal. Por esse critério, o governo teria de promover o seqüestro seguro, o roubo seguro, o homício seguro. Esses argumentos, apesar de completamente irracionais, são repetidos com tanta insistência que muitas pessoas se rendem a eles.
Pesquisa liderada pelo médico Amaury Teixeira Leite, da Universidade Federal de Juiz de Fora, realizada na maternidade-escola da instituição, mostra que, de 1927 a 2001, só ocorreram na referida maternidade 144 mortes decorrentes de abortos. E nem todos eles foram provocados. Se numa maternidade, ao longo de 75 anos, só ocorreram 144 mortes, como o senhor explica essa crença dos formadores de opinião num número tão inflacionado de abortos?
Essa inflação das estatísticas de aborto começou nos Estados Unidos, com o ginecologista e obstetra norte-americano Bernard Nathanson, um dos fundadores da Liga Nacional para os Direitos do Aborto e, a partir de 1971, diretor da maior clínica de abortos do mundo: o Centro de Saúde Sexual, em Nova Iorque. Ele foi um abortista profissional, que fez pessoalmente 5 mil abortos, e confessa que, de 1968 a 1973, ajudou a inventar falsas estatísticas sobre aborto, dizendo que havia, anualmente, 1 milhão de abortos clandestinos nos Estados Unidos quando, na verdade, ocorriam menos de 100 mil. Ele conta também que, quando abortistas de outros países usavam esses dados, ele ria muito, porque, como autor da mentira, sabia que eram falsos. Mas o dr. Bernard Nathanson se arrependeu do que fez e, hoje, integra a luta pró-vida. Hoje, o Brasil está sendo alvo do mesmo processo de falsificação de dados que levou à aprovação do aborto nos Estados Unidos.
Recentemente, o senhor foi alvo de um processo judicial, movido pela antropóloga Débora Diniz, da UnB, e pelo promotor Diaulas Ribeiro, do Distrito Federal, que se sentiram ofendidos por serem chamados de “abortistas”. O senhor foi proibido de usar a palavra abortista. Como anda esse processo?
No primeiro governo Lula, a ministra Nilcea Freire, da Secretaria das Mulheres, promoveu audiências públicas para discutir a questão do aborto. Um observador da CNBB, José Maria da Costa, disse que só pessoas e entidades favoráveis foram convidadas a participar dos debates. Segundo ele, há uma estratégia do governo de implantar o aborto através do Judiciário, considerado mais avançado, nessas questões do que a sociedade.
É verdade. Quando a ministra Nilcea Freire começou a fazer propaganda da legalização do aborto, montou-se uma comissão tripartite, formada por membros do Legislativo, do Executivo e da sociedade civil. No caso da sociedade civil, só foram admitidas entidades abortistas. Quando a CNBB quis participar, disseram que o Estado é laico. Não sei o que querem dizer com Estado laico. Será Estado ateu, antirreligioso? Quem tem religião não pode se manifestar? Um diálogo sem o contraditório não é diálogo, mas monólogo. O resultado desse circo montado pelos defensores do aborto resultou num substitutivo apresentado por Jandira Feghali, do PT do Rio, para um projeto de lei antigo visando a aprovação do aborto. O objetivo era dar a entender que aquilo era produto da vontade popular e não um simples plano do governo de enfiar o aborto goela abaixo dos brasileiros. Como a via legislativa não tem dado certo, porque a maioria dos brasileiros é contra o aborto, optou-se pela via do Judiciário. Foi o que ocorreu, recentemente, na Colômbia, que aprovou o aborto via Corte Suprema. E os colombianos tiveram que engolir essa decisão judicial, porque juiz não é eleito, e, como todos nós, como todo ser humano, ele tem certa tendência ao orgulho. Como não foi eleito, quando a sociedade pressiona o juiz, ele faz o contrário, para mostrar que é independente. Mas essa estratégia de recorrer ao Judiciário não é nova nem original. Remonta a 1973, quando os Estados Unidos oficializaram o aborto.
O senhor fala do caso que ficou conhecido como Roe versus Wade?
Exato. Costuma-se dizer que os Estados Unidos legalizaram o aborto. Isso nunca aconteceu. Não existe lei nos Estados Unidos legalizando o aborto. O que acontece foi o seguinte. Em 1971, uma jovem do Texas chamada Norman McCorvey, apelidada de Jane Roe, queria fazer um aborto. Mas, de acordo com a legislação do Estado do Texas, sua gestação já ultrapassava o período em que o aborto seria permitido. Ela entrou na Suprema Corte, em Washington, com o que nós, no Brasil, chamaríamos de ação direta de inconstitucionalidade. Então, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu, por sete votos contra dois, que o nascituro não é pessoa. Essa decisão, como é da tradição dos Estados Unidos e da Inglaterra, teve efeito vinculante, obrigando os 50 Estados membros da Federação a adequar suas leis para liberar o aborto. Ou seja, o aborto foi liberado nos Estados Unidos não por vontade da de sete magistrados não eleitos pelo povo, indicados pelo presidente da República. E numa decisão que nem sequer foi unânime. Mas, 22 anos depois, em 1995, Jane Roe contou para a revista Newsweek que nunca havia sido estuprada — história que ela inventou para facilitar a aprovação do aborto na Suprema Corte. Ela se converteu ao cristianismo e se arrepende muito do que fez. Tive a oportunidade de encontrá-la em 1998, em Houston, e vi que ela se sente como uma criminosa. Irônico é que a emenda que reconheceu os negros como pessoa é a que foi utilizada para retirar a condição de pessoa do feto. Em 1857, os negros norte-americanos, por decisão da Suprema Corte, tinham sido considerados como não pessoa. Então, para acabar com a distinção entre brancos e negros, fez-se uma emenda á Constituição que dizia que todo aquele que for nascido ou naturalizado nos Estados Unidos é cidadão norte-americano. Essa emenda, criada para acabar com a discriminação contra os negros, foi usada para discriminar os nascituros. Entenderam que o nascituro não é nascido, também não é naturalizado, logo ele não é pessoa. Se não é pessoa, ele carece de direitos. Entre a expectativa de direitos de alguém que ainda vai nascer e o direito natural da mulher à privacidade, à autonomia, à saúde, a liberdade, segurança, entenderam os abortistas que devem prevalecem esses direitos.
O senhor acusa os defensores do aborto de buscarem o atalho do Judiciário. Por sua vez, eles acusam o presidente George Bush de tentar promover um retrocesso na legislação norte-americana sobre o aborto.
Na verdade, o que aconteceu, nos Estados Unidos, foi que se tentou proibir pelo menos o aborto por nascimento parcial, que já é uma mistura de aborto com infanticídio. Nesse tipo de aborto, o médico tira a criança pelas pernas. Quando todo o corpinho da criança já saiu e só resta a cabeça dela dentro da mãe, o médico, com uma tesoura, dá um talho na nuca do bebê, abre um buraco e introduz um tubo para aspirar o cérebro. Nesse momento é que a criança morre. O crânio se contrai e a cabeça pode passar com mais facilidade pelo colo uterino. Esse procedimento, repito, mistura aborto com infanticídio, porque parte da criança já está fora da mãe. Ele foi condenado por duas vezes, através de duas leis aprovadas pelo Congresso. Mas o presidente Clinton vetou essas leis e o Congresso não conseguiu derrubar o veto. Depois, quando a lei foi aprovada novamente, o presidente Bush a sancionou. Mas os defensores do aborto entraram com uma ação de inconstitucionalidade na Suprema Corte, que, por cinco votos contra quatro, referendou a lei e o aborto por nascimento parcial foi proibido.
A Igreja também combate o aborto de crianças anencéfalas e, por isso, tem sido acusada de desumanidade, uma vez que essas crianças não têm chance de sobrevivência. Como o senhor encara essas críticas?
Esse é um aborto eugênico, o aborto de crianças com malformação fetal, entre as quais a anencefalia é a mais grave de todas. Em novembro de 2003, pela primeira vez, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu uma liminar para a realização do aborto de um anencéfalo, isto é, um aborto eugênico. Impetrei um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça — qualquer um pode impetrar habeas corpus, não precisa ser advogado — e o STJ, por intermédio da ministra Laurita Vaz, concedeu liminar em favor do bebê. A criancinha, de Teresópolis, nasceu e recebeu o nome de Maria Vida. Isso foi muito bom para os pais, que estavam desesperados. A liminar deu tempo a eles para pensarem. O pessoal do Pró-Vida do Rio foi visitá-los, eles fizeram retiro e tiveram a oportunidade de conversar com a criança durante a gestação, puderam tratá-la como filho e não como coisa. A menina nasceu, mas como costuma acontecer, viveu pouco tempo. Mas foi batizada por um padre, foi registrada em cartório e foi sepultada. Recebeu todas as honras que um ser humano recebe, o que é muito melhor do que ser esquartejada como lixo hospitalar humano. Os pais dessa criança, ao contrário do que tentaram espalhar, ficaram muito contentes e se tornaram meus amigos. Inclusive a Gabriela, mãe da Maria Vida, tentou impedir que a mãe de dois gêmeos anencéfalos fizessem aborto. Os defensores do aborto ficaram muito preocupadíssimos com essa decisão do STJ e recorreram ao Supremo, mas, quando chegaram lá, a criança já tinha nascido e morrido. Então, entraram com uma Argüição de Excludente de Preceito Fundamental, para que o Supremo defina, à revelia dos legisladores, que toda criança que carece de massa encefálica possa ser expulsa do ventre materno sem que isso configure aborto. Quando essa ação foi julgada, a ministra Elen Gracie, que não conheceu a ação, disse que o tribunal não pode ser um atalho fácil. Ela disse isso sem entrar no mérito, que não foi julgado. Foram quatro os que votaram contra: Ellen Gracie, Carlos Veloso, César Peluso e Eros Grau. Os outros votaram por aceitar a ação, deixando para depois o julgamento do mérito.
Há pelo menos um caso de bebê anencéfalo que tem sobrevivido. O senhor tem acompanhado esse caso?
Esse é um dos problemas sérios dos defensores do aborto — conviver com a Marcela, uma menina anencéfala de Patrocínio Paulista, em São Paulo, pertencente à Diocese de Franca, que está com seis meses de nascida. E, apesar da ausência de massa cerebral, que é quase completa, ela não apenas tem todos os reflexos de uma criança normal, como chora, mama e ri, quando a mãe faz cócegas nela. Todo mundo, até mesmo o pessoal que a favor do direito ao aborto, é unânime em dizer que a Marcela é alguém que tem consciência de si. Ela está com seis meses de nascida, completados em 20 de maio, e recusa-se a morrer, para lamentação dos que desejariam que o aborto eugênico fosse legalizado no Brasil. Ela está morando com sua mãe, Cacilda, uma senhora pobre, numa casa próxima à Santa Casa de Misericórdia de Patrocínio Paulista, porque a família mora num sítio, há uns 12 quilômetros de lá, e não poderia levar a criança para a Santa Casa, porque ela precisa de assistência médica.
Aquilo foi horrível. Só de pensar naquela morte, fico indignado. Até uma criança que foi levar água para Terry Schiavo foi presa. É eutanásia no sentido próprio da palavra. O que o Papa João Paulo II fez, com louvor, foi renunciar aos meios terapêuticos extraordinários. Perguntaram a ele se ele queria ir para a UTI submetendo-se a todos aqueles tipos de entubamento. Ele disse que não, que bastavam os meios ordinários de tratamento. No caso da Terry Schiavo, negaram a ela água, negaram a ela comida, negaram a ela um tubo de respiração que qualquer um poderia colocar, inclusive fora do hospital. No caso, pela legislação brasileira, seria homicídio qualificado, praticado por omissão. Esse tipo de homicídio é conhecido como eutanásia.
O seu livro, Aborto na Rede Hospitalar Pública: O Estado Financiando o Crime, parte do pressuposto de que a vida é um valor absoluto e não pode ser relativizado. Fale um pouco sobre ele.
Esse é o argumento mais forte em defesa do uso de células-tronco embrionárias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário